"DESLUMBRANTE CAMINHADA"
Aguas atravessadas, chãos percorridos
desconhecidas florestas desbravadas
capoeiras e matos varridos
pelas praias, longas caminhadas.
Garganta seca pela sede
pés machucados por espinhos
pássaro livre da rede
à procura de novos caminhos
aroma gostoso do jasmim.
Vistas ofuscadas pelas clareiras
corpo forte, travessia das águas
viver quente, como águas nas caldeiras
animal ferido pelas mágoas.
Distâncias atingidas
flores cultivadas
trilhas percorridas
companhias abandonadas.
Flor da liberdade
espinho da distância
mochila pesada da identidade
prosseguindo na relutância.
Doenças contraídas
e ao mesmo tempo curadas
dores interrompidas
feridas cicatrizadas.
Vistas imponentes ante a imensidão
pernas fortes pela persistência
fardo pesado da solidão
alma vazia em penitência.
Batalhas vencidas
fortalezas conquistadas
montanhas removidas
esperanças frustradas
pessoas queridas
do caminho retiradas.
Visões lindas de muitas paisagens
e algumas de causar horror
momentos bons nas várias passagens
e alguns momentos de terror.
Paisagens de lindas florestas
correndo em límpidos rios
cenários de areias funestas
e águas de dar arrepios.
Sorrisos ao deslumbrar
coragem no lutar
desfrute no amor
frustração no recuar.
Delírios pelo descobrir
alegrias pelo enxergar
vontade de se abrir
conforto em se entregar
conquista ao se permitir
felicidade por se doar.
A caminhada vai continuando
com ela, a vida prosseguindo
pelos caminhos da vida plantando
chorando, colhendo e sorrindo.
Olhar determinado e forte
no peito um destemor
do sofrimento e da morte
pela vida, pleno amor.
Não sabemos, nem nunca saberemos
onde pretendemos chegar
qual destino teremos
ou o que vamos alcançar.
O importante é aqueles que vêm atrás de nós
ao passarem pelos pontos que passamos
tenham uma referência de empenho
e de luta através desses sinais
AS TRILHAS FORAM ABERTAS
OS MONTES FORAM ESCALADOS
AS COBRAS FORAM MORTAS
OS GALHOS FORAM QUEBRADOS
ABRIRAM-SE MUITAS PORTAS
COMO NOS LEVANTAMOS DAS QUEDAS
E DE COMO OS LEÕES FORAM EVITADOS.
PLANTAMOS AS ÁRVORES
CURAMOS AS FERIDAS
SUPORTAMOS AS DORES
COLHEMOS OS FRUTOS
CULTIVAMOS AS FLORES.
a GRANDE diferença está em estar no mundo
fazendo ou não uma diferença nele.
José A. Loureiro
"ESCUTA"
Escuta !
Perto de mim tem uma mulher
eu quase nem percebi
seria Amanda, Cristina ou Ester?
plantou um olhar em mim, eu senti.
Escuta !!
Dentro de mim há uma mulher
no meu entorno, encaixada, cravada, colada
desfolhando um bem me quer
seios à mostra, roupa quedada.
Escuta !!!
Dentro de mim existe uma mulher
como ela soube que gosto assim?
como ela pode em mim couber
fez-me notar seu lírio, seu jasmim.
Escuta !!!!
Dentro de mim ela está sofrendo
ela precisa ir logo embora
descolada, desencaixada descravada, doendo
mas sua volta vai acontecer a qualquer hora.
Escuta !!!!!
Deixou em mim, firme confiança,
que essa mulher volte novamente
no espaço que lhe cabe, criança
e que entre pela porta da frente.
Escuta !!!!!!
Em mim, extravasa uma esperança
e se há uma razão, que eu enfrente,
das trevas, uma luz que avança,
lá, de braços abertos, que ela entre contente.
José A. Loureiro
"BELEZA NÃO ESSENCIAL"
O amor dos feios pode também ser lindo
beleza não é fundamental nem essencial
e o corpo são apenas dois corpos sorrindo
pois o amor é plural do sentimento individual.
Poesia escrita em antigo pergaminho
onde não estavam sozinhos os versos
ao amor basta uma alcova, um ninho
amor e feiura não parecem dispersos.
Olhares apaixonados não vem defeitos
o conceito do feio não anula a aparência exterior
sonhos de paixão não podem ser desfeitos
e resumem-se na clara definição do Amor.
Sendo um amor a mais bela rima
e o corpo do texto não seja desfeito
onde a poesia por si só se prima
o corpo é apenas um corpo imperfeito.
O amor dos feios é quase sem juízo
para amar é preciso, essa é a definição
pecado que conduz e eleva ao paraíso
e a beleza não seja a dona da razão.
Sem preconceitos, o amor vem surgindo
pois até entre os feios o amor tem valor
de natureza tão bela, ou não, vai fluindo
até entre feios, o amor é obra do Criador.
José A. Loureiro
"MANEQUIM"
A primeira vez que na estampa, a vesti
senti a beleza, no conforto, nos contornos
esculpida por mim, a beleza da frieza
moldando a escultura nos entornos.
Bem eu me sentia para reencontrar
e se a despia, e se acaso a despia
era para novamente redesenhar
de bem vesti-la, o frescor que se via.
E assim eu destilava
no convívio, a essência
em novas linhas desfilava
era só sua, a exigência.
Num desse vincos que só o tempo fabrica
e pude ver sua cor pela primeira vez
a costura se desfez, linho branco, veste rica
alinhavar descuidado, uma dobra se desfez.
Ressenti, sem saber, o amor perdido
percebi-me, sem viço, desbotado
onde perdi, não sei, devo ter esquecido
embaixo do luar, nas ruas, nos quintais
uma só cor, vinculava-me ao passado
outra vez, tentei vestir, o que não serve mais.
Beijos sem paixão, mataram as amorosas células
como um quadro afixado de maneira tão banal
vestimos as novas roupas de asas de libélulas
para que tudo nunca pareça sempre igual.
José A. Loureiro
"AMOR SILENTE"
O amor, como despetalada flor
acaricia os sons e os sentidos
quando nu, se apresenta sem pudor
perdido entre beijos e gemidos.
O amor, gotas que vem de um olhar
se despe, nu, num mar de emoção
na noite escura, à procura de lugar
ser paixão, sendo voz do coração
lúcido , tem desejo de se entregar
nos rochedos, pura penetração.
Grito mudo, evocado, ecoado
ateia, incendia a chama interior
suplica, invocando o pecado
fundido em emoção multicor.
Musa, que vem de um sonho
das estrelas, é poesia a encantar
fonte de amor tão estranho
nesse seu corpo, ávido e ardente
na ânsia louca de se entregar
desperta imaginação tão silente.
Ondas se aconchegam em espumas
à espera de um novo amanhecer
corpos moldados na areia, nas brumas
no solário matinal, lento desaparecer.
José A. Loureiro
"MOCIDADE PERDIDA"
Oh! eu quero viver, beber perfumes
na flor silvestre que embalsama os ares
minha alma adeja sem queixumes
qual branca vela na amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma
nos seus beijos de fogo há tanta vida
Sou o errante que assombra e toma
na sombra fresca, a tua veste erguida.
Mas uma voz me responde, sombria
e a mesma voz repete-me, terrível
terás longo sono sob a laje fria
com gargalhar sarcástico, impossível.
Morrer quando esse mundo é um paraíso
e a alma um cisne de douradas plumas
não! o seio da amante é um lago virgem
me vejo a boiar à tona das espumas.
Formosa mulher, causando vertigem
que banharam de encanto as alvoradas
é a borboleta que espaneja na origem
o pó das asas lúcidas, belas e douradas.
Eu sinto em mim o borbulhar do gênio
vejo além um distante futuro radiante
avante! brada-me o talento de essênio
e o eco ao longe me repete, avante.
O futuro, ah' o futuro, está no seu seio
entre louros e bênçãos dorme a glória
após um só nome de amor, pleiteio
um nome escrito com sangue na história.
Morrer é ver extinto dentre as névoas
no farol que nos guia na fria tormenta
condenado, a escutar os dobres de sino
voz de morte, que a morte lamenta.
Aí' morrer é trocar astros por círios
leito macio que adorna o mundo
trocar os beijos da mulher, nos lírios
sentir todo seu aroma, num segundo.
José A. Loureiro
"ESPERANÇA PERDIDA"
A mim, vão pensamento, a si, descuidada
de quem eu mando de casa, despedida
mesmo sendo de uns olhos bem nascida
foste com desapego tão mal agradecida.
Nasceu-te um acaso mal pensado
e cresceu-te um desejo inadvertido
criei-te esperando ser entendido
acabei sofrendo como desesperado.
Luz foste, que mui atrevidamente
me conduzistes à esfera da luz pura
e despojou-me do teu corpo ardente
confiar no Sol foi irracional loucura
porque nesse clarão dos céus luzente
se falta a razão, sobra a formosura.
Carregado de mim, ando só no mundo
e grande peso embarga-me as passadas
vivo transitando por vias desusadas
faço o peso crescer e atiro-me ao fundo.
O remédio será viver cada segundo
caminhar onde mais vejo as passadas
das que andam juntas, mais ornadas
de quem anda só, pesar mais profundo.
Não é fácil viver entre os insanos
erra, quem presume que sabe tudo
se no atalho não souber seus danos
o prudente haverá de ser mudo
ser melhor nesse caos de enganos
louco com os demais e não ser sisudo.
José A. Loureiro
"SIGNIFICADOS"
MUITO: é quando os dedos da mão não são suficientes
POUCO: é menos da metade
AINDA: é quando a vontade está no meio do caminho
LÁGRIMA: é um sumo que sai dos olhos
quando se espreme o coração
AMIZADE: é quando você não faz questão de você
e se empenha para os outros
VERGONHA: é um pano preto que você quer
para se cobrir naquela hora
SOLIDÃO: é uma ilha com saudade de barco
ABANDONO: é quando o barco parte e você fica
SAUDADE: é quando o momento tenta fugir da lembrança
para acontecer de novo e não consegue
AUSÊNCIA: é uma falta que fica ali presente
TRISTEZA: é uma mão gigante que aperta seu coração
INTERESSE: é um ponto de interrogação ou
de interrogação no final do sentimento
EMOÇÃO: é um tango que ainda não foi feito
DESEJO: é uma boca com sede
PAIXÃO: é quando apesar da palavra "perigo"
o desejo vai e entra
EXITAÇÃO: é quando os beijos estão desatinados
para sair da boca de pressa
ANGUSTIA: é um nó muito apertado no
meio do sossego
ANSIEDADE: é quando sempre faltam cinco minutos
para o que quer que seja
PREOCUPAÇÃO: é uma cola que não deixa o que ainda
não acontecer, saia de seu pensamento
INDECISÃO: é quando você sabe muito bem o que quer
mas acha que devia querer outra coisa
AGONIA: é quando o maestro de você se perde completamente
SUCESSO: é quando você faz o que sempre fez
só que todo mundo percebe
SORTE: é quando a competência se encontra com a oportunidade
LEALDADE: é uma qualidade dos cachorros que nem
todo ser humano consegue ter
DECEPÇÃO: é quando você risca em algo ou alguém
com um xis preto ou vermelho
INDIFERENÇA: é quando os minutos não se interessam
por nada especialmente
DESILUSÃO: é quando anoitece em você contra a vontade do dia
DESATINO: é um desataque de prudência
ALEGRIA: é um bloco de carnaval que não liga se não é Fevereiro
RAZÃO: é quando o cuidado aproveita que a emoção
está dormindo e assume o mandato
PRUDÊNCIA: é um acesso de loucura ao contrário
PRESSENTIMENTO: é quando passa um trailer de um filme
que pode ser que nunca exista
INTUIÇÃO: é quando seu coração dá um pulinho no futuro
e volta rapidinho
VONTADE: é um desejo que cisma que você é a casa dele
CULPA: é quando você cisma que poderia ter feito diferente
mas geralmente não podia
RAIVA: é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes
PERDÃO: é quando o Natal acontece, por exemplo, em Maio
RENÚNCIA: é um não que não queria ser
VAIDADE: é um espelho onisciente, onipotente e onipresente
AMIGOS: são anjos que nos levantam quando
nossas asas estão machucadas
FELICIDADE: é a manifestação dos lábios quando
os olhos encontram o que o coração procurava
DESCULPA: é uma palavra que pretende ser um beijo
BEIJO: é um procedimento inteligentemente desenvolvido
para interrupção mútua da fala
quando as palavras se tornam desnecessárias
AMOR: é quando a paixão não tem outro
compromisso marcado
NÃO
Amor é um exagero...também NÃO
É um cuidar de...uma batelada de carinho?
Um enxame, um dilúvio, um mundaréu
Uma insanidade, um destempero
Um despropósito, um descontrole
Uma necessidade, um desapego ?
TALVEZ: se não tivesse sentido
TALVEZ: porque não houvesse explicação
ESSE NEGÓCIO DE AMOR NÃO SEI DEFINIR
José A. Loureiro
"QUINZE DIAS"
Eu pedi uma bicota
Marizinha respondeu
eu te dou uma bicota
só você casar mais eu.
Já passado quinze dias
Marizinha respondeu
eu te dou uma bicota
só você noivar com eu.
Já passado mais uns tempos
quinze dias sucedeu
não noivamos nem casamos
e a bicota ela me deu.
Chamei pela pra fugir
ela não respostou
ficou da cor de açafrão
e semblante desmudou.
Mais quinze dias venceu
foi na noite de São João
foi então que aconteceu
nós fugimos no lombo do alazão.
Larguei tudo que eu tinha
por causa da Marizinha
e na noite de São João
tratou de me acompanhar
largou pai, deixou irmão
e fugimos pra casar.
Os peitinhos dela tremia
com a toada do cavalo
na minha cacunda fremia
que chegava a dar estralo.
Fiquei tão desatinado
torcia as rédeas pro lado
e embaixo do ipê roxo
amarrei o alazão
e trocamos um arrocho.
Muitos quinze dias sucederam
muitas festas de São João
mas tem ainda o ipê roxo
eu pergunto, então?
cadê o antigo arrocho.
Ela respostou
ainda lembra disso?
Uai !!! lembro demais
é você que não acende mais.
José A. Loureiro
"ARMAS LETAIS"
Qual arma que combina?
a mais firme, a mais certeira
a lança, a espada, a clavina
ou a funda aventureira?
A pistola, o bacamarte
a espingarda ou a flecha
o canhão que tudo parte
e destroça numa brecha?
Qual a mais firme das armas?
o terçado, a fisga ou o braço
o dardo, a maça, a faca serrote
a adaga, o florete ou o laço
a cimitarra ou o vil garrote?
Sutilmente é aquela arma
muito pior que a zarabatana
é aquela que não desarma
se apelida: A LINGUA HUMANA.
José A. Loureiro
"MINHA SEREIA"
Pálida à luz de uma âncora sombria
sobre um leito de flores reclinada
entre a praia e areia, ela adormecia
tendo a noite, linda Lua iluminada.
Era a virgem do mar, na escuma fria
pelas ondas da maré, embalada
fugaz sonho se banhava e se esquecia
era um anjo na areia, na alvorada.
Era mais bela, o seio palpitando
negros olhos, pálpebras abrindo
formas nuas na praia resvalando
não te rias de mim, anjo lindo
por ti, as noites velei, osculando
em ti, nas brumas fiquei sorrindo.
Como destino minha alma errante
onde fogo insensato me consumia
carrego uma saudade constante
a mais amorosa visão, embelecia.
Sou a tua mocidade, oh' criança
o cálido poeta, engrinalda flores
se vivi, foi por ti com esperança
longa vida a gozar de teus amores.
Beijarei teu corpo nu, docemente
visto realizar-se, um sonho antigo
oh' minha virgem do sonho ardente
filha do mar, carrega-me contigo.
José A. Loureiro
"LUAR MAROTO"
Onde você estava na noite passada?
a Lua espreita, ilumina, nossa morada
Na madrugada você disse mais nada
de flor, de pétala, desfolhada.
Eu sou estilete, arma carregada
a Lua não vive sempre tão cheia
eu ando ferindo tudo ou quase nada
mas todas as noites a Lua me clareia.
Onde está você, onde está?
com você vou, onde está?
como está você, como está?
e comigo, você também está?.
A sua aura, seus olhos castanhos
só pra me perder no espaço e no tempo
no seu quarto em planos estranhos
penso na vida, conforme anda o vento.
Como está você, onde vai?
onde saberei, onde você estar?
onde está você, no luar você sai?
eu preciso saber, rever e amar.
Você me renova, pinta, discorda
acorda na noite e vagueia na areia
me põe na forca e não puxa a corda
é grão na praia, a mais linda sereia.
Onde está você, minha Lua?
andas perfídia pela rua?
eu preciso saber se a Lua flutua
tento saber se a deusa está nua.
Se meu destino depende você entrar
saber em que quarto te encontrar
na Lua, na terra, em qualquer lugar
Se nua e pura, seu lírio, me ofertar.
José A. Loureiro
"O CAIPIRA E PROGRESSO"
O mundo está desmudado
sua feição diferenciou
os homi tão mais danado
até Deus já arreparou.
Invetaro o carro sem boi
qui corre mais qui pensamento
nem vi dondi ele foi
incima di rodilha de borracha
numa istrada di cimento.
Invetaro a tar de radio difusão
qui tem cantoria e até chora
tem conversa di montão
inté fala até as hora.
Inventaro o aeroplano
qui voa qui nem passarim
rezo pra num ter desengano
SáSinhora orai pur mim.
inventaro a televisão
qui tem figura na moldura
tem noticia i novela di sensação
e tem pastor qui até cura.
Agora tão trabaiano
mi disseram lá na rua
numa engrenagem medonha
pra prumá homi na lua.
Invetaro o rádio sem pilha
qui fala inté no japão
pra conversá ca sua filha
vou sumir no meu sertão.
José A. Loureiro
"O CANDIDATO"
Uma camisa ordinária
Com número e fotografia
Um barbudo sorria
Na TV imaginária
Distribui a indumentária
Com eleitor iludido
Passa dois meses vestido
No outdoor do ladrão
Na época da eleição
Todo pobre é conhecido.
Político profissional
Já vive de cara lisa
A todos diz que precisa
Receber o nosso aval
Mas na câmara federal
Ele se faz de esquecido
Muda logo de partido
E diz oh povo pidão!
Na época de eleição
Todo pobre é conhecido.
Como vai parente amigo?
Meu querido conterrâneo
Seu pai foi contemporâneo
Serviu caserna comigo
Como vai ele Rodrigo?
Pergunta o cabra fingido
Soube que havia morrido
E fez uma encenação
Na época de eleição
Todo pobre é conhecido.
Siá Maria Carrapato
Recebeu um visita
Um metro e meio de chita
Pra votar num candidato
Um punhado de retrato
Para ser distribuído
Um boné pra seu marido
E para o filho um calção
Na época da eleição
Todo pobre é conhecido
José A. Loureiro
"UMA ORAÇÃO PARA A VELHICE"
Que a luz da tua alma cuide de ti
que toda preocupação
que toda ansiedade por envelhecer
sejam transfiguradas.
Que te seja concedida uma sabedoria
com o olho de tua alma
para enxergar esse belo tempo de colheita
e que esse ceifar seja eterno.
Que tenhas o compromisso de colher a tua vida
cicatrizar o que te feriu
permitir-lhe chegar mais perto de ti
e fundir-se contigo.
Que tenhas grande dignidade
que tenhas consciência de quanto és livre
e acima de tudo
que te seja concedida a maravilhosa dádiva
de encontrar a luz eterna
e a beleza que está no teu íntimo.
Que sejas abençoado
e que descubras um amor maravilhoso
para que o Amor de DEUS seja manifestado
em ti e por ti mesmo.
José A. Loureiro
"A VALSA"
Quando a valsa acabou, ela veio à janela
o leque abriu das dobras, sorriu e abanava
Eu, viração da noite, a essa hora entrava
e estaquei atônito, vendo-a decotada e bela.
Eram os ombros, eram as espáduas, aquela
pele rosada, um mimo, ardendo eu estava
no ímpeto da paixão, sonhei que a beijava
hauri sequioso todo odor da essência dela.
Foi então que me dei demais da conta
um sorriso transforma-se em lamento
e no giro, valseando, ela ficou tonta
entretanto, tinha os pés ligeiros ao vento.
Deixei-a, porque vi mais tarde, óh ciúme
saindo acompanhada, descendo a ladeira
foi então, perdi, o odor do seu perfume
e agora que se foi, lembrando-a ainda
sinto à luz do luar, ainda que ela cheira
nesse ar da noite, naquela espádua linda.
Finda a valsa, ela moveu-se de onde estava
fiquei admirando suas ancas virtuosas
que o salto alto do sapato, destacava
e fiquei só, na saudade das valsas saudosas.
José A. Loureiro
"ADORMECIDOS"
Uma noite, eu me lembro, ela dormia
numa rede encostada, suavemente
de tão quase aberto o roupão, já se via
os pés descalços, o corpo nu, envolvente.
De uma cerejeira, com galhos encurvados
indiscretos, entram no quarto, a aguardar
o certo momento, demais encantados
iam no rosto trêmulo, tentando oscular.
Pela janela adentrava um cheiro agreste
Exalavam todos os odores da campina
ardiloso ardor e nada mais que me reste
na noite plácida, espio toda nudez, divina.
Era um quadro quase celeste, o luar clareava
mesmo em sonhando, a virgem estremecia
quando ela serenava, sonho eu, que beijava
Quando ela ia a beijar-me , eu sempre fugia.
Diria se, que naquele doce instante
brincavam duas cândidas crianças
a brisa agitava, na noite brilhante
fazia ondear nela, as negras tranças.
Eu ora chegava, ora me afastava
quando a vi despertada a meio
para não zanga-la , despejava
uma chuva de pétalas no seio.
Eu fitando essa cena, refletia
naquela noite de lua enluarada
óh flor tu és a virgem que um dia
tu és a linda flor, nua e explorada.
Bem feliz quem ali pode nessa hora
sentir a fusão em plena majestade
tendo cobertos os corpos nus agora
na terra, no céu em toda imensidade.
Óh que doce harmonia ascendente
que música suave ao longe, soa
como é sublime ter amor ardente
preguiçosa, a noite, não destoa.
José A. Loureiro
"DESEJO E CASTIGO"
Quando te vejo, extasiada, lancetada
vejo o Céu e o jardim ser parecido
é que no assombro do primor luzido
ver a luz do Sol em teus olhos duplicada.
Nem devo, nem estou equivocado
ver no decote largo do teu vestido
antes se mostrasse bem reduzido
no teu seio, me gosta, apalpado.
Nos olhos e na face, ousa, mais galharda
que ao Céu prefere, inflamando os raios
esconde no jardim, a nudez que me guarda
enfim dando ao Céu e ao jardim, desmaios
o Céu esconde o Sol, que a noite, retarda
o jardim logra ver os seios, nos solários.
Amo te como o vinho e o sono
tu és, no corpo nu, amoroso leito
mas néctar sem pudor não se esgota
travesseiro não há como teu peito.
Posso viver sorvendo amor na fonte
não preciso no jardim, flores colher
engrinaldas melhor, minha fronte
com lírios mas sutis de teus amores.
vales mais que um harém, minha bela
em ver me ditoso, que ela bem capricha
vejo no brilho de teus olhos uma estela
em abrasado verão, toda nudez espicha.
(resposta dela)
Tu és o louco da imortal loucura
o louco da loucura mais suprema
alcova prende, tua negra algema
preso fica, na tua extrema ventura.
Mas nessa algema, encontra aventura
tanto nessa, mesma ventura extrema
traz na dor da alma, suplicas que gema
rebenta a algema em estrela de ternura.
Tu és o poeta, o grande assinalado
de eternas belezas pouco a pouco
que povoas o mundo despovoado
na natureza prodigiosa e rica
toda audácia na escrita, justifica
em teus versos imortais, de louco.
José A. Loureiro
"A VINGANÇA"
Era pra ser um domingo de glória
que entrasse para sempre na história
mas depois de tudo terminado
veio um temporal, um céu desabado.
Cada qual seguiu sem rumo
muitos amigos, sem prumo
mas eu, esqueci, e não desabei
e pra minha casa logo voltei.
Voltei com vontade maliciosa
ao entrar vi no sofá estendida
minha bela numa roupa gostosa
estava um tanto adormecida.
Sem perda de tempo, a roupa
a dela todinha, e a minha, tirei
vi seu rosto com medo - me poupa
mas meu intento eu não mudei.
Enlacei meus braços nos dois dela
ela dizia - tanto tempo não acontecia
mas rindo e sorrindo, fechou a janela
e caímos na sórdida e desatada folia.
Dei uma, dei duas, dei três
eu abrasado, ela gemia
no tapete topamos outra vez
apartar-se ninguém queria.
Na alcova, ela sutilmente rogava
dei quatro ,dei cinco, dei seis
no seu ouvido, delicias eu falava
e no gozo, ela pedia, mais uma vez.
Dei sete, dei oito, quantas ela esqueceu
olhando abaixo, vi amolecendo o biscoito
no entanto, entumecida, ela adormeceu
mas eu acho que quase cheguei a dezoito.
Ela não era aquela da Espanha
viera jovem ainda, da Alemanha
aquela que fez um, fez dois, fez três
pra aumentar a desgraça tamanha
fez quatro, fez cinco, fez seis
fez mais um, o sete, e ficou decidido
ter respeito para com o rei caído.
Esse é o final com tristeza contado
porém isso me causa tanto medo
sendo nosso fútil bol derrotado
agora sabem do nosso segredo.
Mas que não seja meu desengano
se ela souber, grito por socorro
se ela descobrir, passo mais de ano
dormindo na casinha do cachorro.
José A. Loureiro
"AMOR E MEDO"
Quando fujo e causando dissabores
da luz de fogo que te cerca, oh! bela
comigo dizes, estou a suspirar amores
meu Deus, que gelo, que frieza aquela.
Como te enganas amor, e não é pouco
que se alimenta no voraz segredo
e se te fujo é que te adoro tanto louco
és bela, eu moço, tens amor, eu medo.
Tenho medo de mim, de ti, de tudo
da luz, da sombra, do silêncio das vozes
das folhas secas, de chorar tão mudo
nas longas horas, fluindo tão velozes.
O véu da noite me atormenta em dores
a luz da manhã, me desatam os freios
e a noite escura, escondendo as cores
eu me estremeço diante de tantos receios.
É que esse vento primaveril vem abrasar
tens o fogo que caprichoso, ondeia
soprando na noite, incêndio, a crepitar
em chama viva que teu sorriso ateia.
Ai, se me visse em amor tão franco
a mão tremente, no calor das tuas
amarrotaria teu belo vestido branco
e soltar os cabelos, nas espáduas nuas.
Ai, se te visse minha donzela pura
sobre o veludo, inclinada ao meio
olhos em volúpia, enquanto dura
os braços frouxos, palmejando o seio.
Diz, que seria da pureza de anjo
das vestes desatando as asas
transformas em amor, arcanjo
criança louca, és um chão de brasas.
No fogo vivo, eu me abrasaria, juro
ébrio e sedento na fugaz vertigem
machucara com meu dedo impuro
as lindas flores de grinalda virgem.
Vampiro infame, sorveria num beijo
toda inocência que teus lábios encerra
e seria nos abraços, longevo cortejo
anja deflorada, na cama, na terra.
Depois, despertas do febril delírio
corpo pilhado, em vão lamento
tu perguntarás, deflorastes o lírio?
eu te diria, desfolhou-te o vento.
Ai, não me chames coração de gelo
bem vês, me custou o fatal segredo
se te fujo é que te adoro, meu apelo
és bela, eu moço, tens amor, eu medo.
José A. Loureiro
"O TUDO QUE NÃO SE REPARTE"
Ah! sonhei que tu donzela, senão, diga
sonhei que entre meus braços vós estava
bem verdade fosse, o que eu sonhava
não permita amor que eu, tal consiga
O que anda no cuidado, sem fadiga
e a nudez, amor que representavas
teatro da luminosa noite, apartavas
na alma nos sentidos, doce se liga.
Acordei na guarda como sentinela
em toda cama espargi uma peçonha
me vendo só sem vós, em tal mazela
pois tal ato me cobre de vergonha
trabalho tem, quem ama e se desvela
muito quem dorme, em falso sonha.
Porém se acaba o Sol, porque nascia?
Se formosa é a Lua, porque não dura?
como a beleza, assim se transfigura?
sendo o gosto da pena, assim se afia?
Mas no Sol e na Lua, falte a firmeza
na formosura não se dê inconstância
e na alegria sinta um pouco de tristeza
conhece o mundo enfim, a tolerância
te tens posse dos bens por natureza
a firmeza sempre se dá por constância.
O tudo sem parte não é tudo
a parte sem o tudo não é parte
mas se a parte tudo se reparte
se diga que aparte, eu não mudo.
Discreta e formosíssima assim te via
enquanto estamos vendo a toda hora
na tua face, o iluminar da aurora
em teus olhos, vejo o Sol e o dia.
Enquanto, com gentil descortesia
o ar, que fresco Adônis te namora
espalha a rica trança que tens agora
ao Adônis atrevido, concedo anistia.
Goza, goza da flor da mocidade
que o tempo trota a toda ligeireza
e imprime em toda flor, felicidade
Oh! não aguardes que a madura idade
converta em murcha flor essa beleza
em terra, em cinza, em pó, de verdade.
Já que és a minha flor amada
te trago muito bem guardada
escondida dos olhos ansiosos
de homens parvos, cobiçosos.
José A. Loureiro
"INDECISÃO MAL RESOLVIDA"
Eu vi a Clara Maria, e me apaixonei
fiz logo voto eterno de amor por ela
mas vi depois a Nina que é tão bela
merece igual o cuidado que guardei.
A qual escolherei se neste estado
eu não sei distinguir esta daquela
se esta agora vir, morro por ela
se aquela aqui vir, vivo abrasado.
Mas esta me despreza como amante
sabe que estou preso em outros braços
e aquela não me quer, por inconstante
vem cupido, me solta desses laços
ou faz das duas um só semblante
ou divide meu peito em dois pedaços.
Meu sacrilégio então, não é ser poeta
nem na terra de amor não ter um eco
e meu anjo, no sonho se agita e inquieta
vem me tratar como se trata um boneco.
Não é andar de cotovelos corroídos
ter duro como pedra o amargo travesseiro
sou eu nos escuros, dos amores perdidos
quem me dera o Sol, ser como dinheiro.
Minha desdita oh! cândida donzela
o que faz meu regaço quando blasfema
é ter para escrever um completo poema
e não ter sequer, um vintém para uma vela.
José A. Loureiro
"CARTA AO INIMIGO"
Cavaleiro das armas escuras
onde vais pelas trevas impuras
com a espada sangrenta na mão
porque brilham teus olhos ardentes
(queria que estivessem dormentes)
e gemidos nos lábio frementes
vertem fogos do teu coração.
Cavaleiro quem és, o remorso?
do corcel te debruças no dorso
(e que tombes, juro que torço)
e galopas no longo vale, através
da estrada acordando as poeiras
não escutas gritando as caveiras?
a morder-te os fantasmas nos pés.
Onde vais pelas trevas impuras
cavaleiro das armas escuras
macilento qual morro na tumba
(para mim, desde que sucumba)
Tu escutas na distante montanha
Um tropel teu galope acompanha
e um clamor de vingança retumba.
Cavaleiro quem és, que mistério
que te faz da morte um império
(te desejo uma praga um impropério)
pela noite assombrada a vagar.
Sou o assombro de tua vã esperança
sou tua febre que nunca descansa
sou o delírio que há de te matar
nesse desejo (nosso) de vingança
um de nós virá a tombar.
O que contará a futura história
imortal, sempre estar desunido
desse guerrear sem glória
e nenhum vencedor terá sido
será tu esquecido na memória
serei eu, o poeta esquecido?
José A. Loureiro
"AMOR DESABROCHADO"
Anjo na infância, a boneca deixara
isso é ser flor e anjo justamente
ser angélica flor e anjo florente
o que em vós, então se formara.
Quem ver uma flor que não a cortara
de verde pé, de rama florescente
e quem um anjo vira tão luzente
que por seu Deus, não a idolatrara.
Se como anjo sois dos meu altares
fostes o meu custódio e minha guarda
ganhara eu na sorte, final dos azares
mas vejo que tão bela e tão galharda
posto que anjos nunca dão pesares
sois anjo que me tenta e não me guarda.
Nunca vi em minha vida a formosura
ouvindo falar nela noite e dia
e ouvida me incitava e me movia
vendo nela tão bela arquitetura.
Ontem a vi por grande ventura
na cara, no bom ar, na galhardia
de uma mulher que em anjo se vestia
de um Sol que se trajava em criatura.
Sofro então, vendo abrasar-me
se este anjo não é de encarecer-me
saiba o mundo, o tanto exagerar-me
olhos meus, então por defender-te
se a beleza hei de ver para ofuscar-me
antes cego do que eu perder-te.
José A. Loureiro
"AMOR CIUMENTO"
Ardor em coração firme nascido
pranto por belos olhos derramado
incêndio em mares de água disfarçado
campos floridos em fogo convertido.
Tu, que um peito abrasas escondido
tu, que em um rosto corres desatado
quando fogo em cristal aprisionado
quando cristal em chamas derretido.
Sé es fogo como passa brandamente
se és flora como queimas com porfia
mas quem anda amor em ti prudente
pois para tempero da minha alegria
como quis que aqui fosse flora ardente
não se permita parecer a chama fria.
Corrente que do peito aflorada
sois por dois belos olhos despida
e por flora correndo dividida
deixais mudar, levais a cor mudada.
Não sei quando caís precipitada
as flores que regais tão parecida
se sois flora por rosa derretida
ou sois flora por rosa desfolhada.
Essa enchente gentil é prata fina
que de rubi por concha se dilata
faz troca tão diversa e peregrina
que no objeto se mostra e se retrata
mesclando a cor purpúrea e cristalina
não sei quando rubi ou quando prata.
Na doçura do teu perfume
para profundos desencantos
vem a chaga queixosa do ciúme
para desabar furiosos prantos.
Caos confuso, labirinto horrendo
onde não topo luz, nem fio amando
lugar de glória onde estou penando
nem sei por onde estou vivendo.
Vozes sem distinção Babel tremendo
pesada fantasia, louco sono brando
quando eu mesmo, vou levando
onde o vozes que escuto, não entendo.
Dúvida és certeza, nunca desengano
e ambas proporções com igualdade
no bem me inquieta, causando dano
no mal, ciúmes martírio da vontade
verdadeiro tormento para engano
e cegueira presunção para verdade.
José A. Loureiro
"AMOR SILENCIOSO"
Largo em sentir, em respirar sucinto
peno e calo tão fino e tão atento
que fazendo disfarce do tormento
mostro que não padeço, sei o que sinto.
O mal encoberto, ou que desminto
dentro do coração é que o sustento
com que para penar é sentimento
para não entender, esse labirinto.
Ninguém sufoca a voz nos seus retiros
da tempestade é o estrondo efeito
lá tem ecos na terra, os meus suspiros
mas do meu segredo, alto conceito
pois não se chega, ouvir os tiros
dos combates travados dentro do peito.
Vês esse Sol de luzes coroado
em pérolas a Aurora convertida
vês a Lua de estrelas guarnecida
vês o Céu de planetas adornado.
O céu, deixemos naquele prado
a rosa com razão desvanecida
a açucena por alva presumida
o cravo por galã lisonjeado.
Deixa o prado, minha adorada
vês nesse luar a esfera cristalina
em sucessivo olhar encantada
parece aos olhos ser prata fina
vês tudo isso, pois tudo é nada
à vista do teu corpo, Cristina.
José A. Loureiro
"VIOLA MINHA VIOLA"
(Tributo à Inezita Barroso)
Ah ! plangente viola, dormente e morna
soluços ao luar, choros ao vento
tristes perfis, o mais vago contorna
boca murmurante de lamento.
Sutis palpitações à luz da Lua
dedilhando canções amorosas
quando lá se escuta na deserta rua
as cordas das violas saudosas.
Quando os sons das violas soluçando
quando nas cordas as violas gemem
e vão dilacerando e se deliciando
as almas que na sombra tremem.
Vozes veladas, veludosas vozes
volúpias das violas vozes veladas
nos braços dos vórtices velozes
vozes em noites enluaradas.
Tudo nas cordas da viola ecoa
vibra e se contorce no ar convulso
tudo na noite tudo clama e voa
sob a febril agitação de um pulso.
Oh! languidez, languidez infinita
nebulosas de sons e de queixumes
vibra o coração na ânsia esquisita
de gritos e lamentos de ciúmes.
Que encantos acres nos vadios rotos
quando em tosca viola por lentas horas
vibram com a graça virgem dos garotos
um belo concerto de lágrimas sonoras.
Quando uma voz trêmula, incerta
palpitando no espaço ondula, ondeia
e o canto sobe para a rua deserta
soturna e singular da Lua cheia.
Como me embala toda essa pungência
essas lacerações, como me embalam
como abrem asas brancas de clemência
as harmonias das violas que falam.
Que graça ideal, docemente triste
nos lânguidos bordões plange esquisita
Quanta melodia de anjo existe
nas visões melodiosas, Inezita.
José A. Loureiro
"UMA TERÇA FEIRA"
Eu me lembro bem, era uma terça feira
sopravam os ventos da primavera
o amor flutuava esperançoso à espera
odores de alfazemas açucenas e rosas
e os jovens cultuavam as prosas.
Ela era linda era bela
sua pele, uma aquarela
seu rubor singelo adornava
toda sua pura timidez
eu simplesmente pensava
na sua crua nudez.
Foi em setembro
era uma terça feira
eu bem me lembro
esgueirando pela beira
ela linda e donzela
vazei pela janela.
E tudo rápido sucedido
o pai, homem honrado
acabei sendo ferido
não se fez de rogado.
E pelo mal feito
acordei no hospital
estirado num leito
me chamaram de animal.
Hoje veio ter comigo
juntos, eu e um amigo
lembrando o horror
ao revistarmos cada cena
ainda sinto o odor
da alfazema, da rosa, da açucena.
Ando desatinado nessa eira
e tem sido meu tormento
era primavera, terça feira
de mim, nenhum lamento.
E o destino assim quis
eu aqui, inerte numa cadeira
ela desacorçoada e infeliz
num convento, vestida de freira.
eu me lembro bem
era uma simples terça feira.
José A. Loureiro
"PRIMEIROS AMORES"
Em idade juvenil em que éramos atores
andando pela mão e mal andava
uma ninfa comigo então, brincava
da mesma idade e bela como as flores.
Que alegre, que suave, que sonora
aquela fontezinha, aqui murmura
e nos campos plenos de verdura
o prazer avultado tanto melhora.
Eu, ao vê-la sentia mil ardores
ela punha-se a olhar e não falava
qualquer de nós podia ver que amava
mas quem sabia o que eram amores?
Pelo estudo, muda-se ela
Na distância, em local que lhe convinha
foi-se na outra ribeira, e eu naquela
Sentindo a dor a minha alma continha.
Eu cada vez mais firme, ela mais bela
não se lembrando que já fora minha
eu ainda me lembro que já fui dela
no meu desencanto, perdi a única
foto dela que eu tinha.
José A. Loureiro
"A MÚSICA PODE ACABAR"
Não dance tão depressa
é melhor você diminuir o passo
o tempo é curto
e a música pode acabar.
Você corre atrás de cada dia
voando?
quando você pergunta algo
permite-se ouvir a resposta?
É melhor você diminuir o passo
não dance tão depressa
o tempo é curto
e a música pode acabar.
Você disse algumas vezes
vamos deixar para fazer isso
amanhã?
Perdeu contato?
deixou uma boa amizade morrer
porque você nunca tinha tempo
para ligar e dizer um "oi"?
Quando você corre tão depressa
para chegar a algum lugar
você perde a metade
da satisfação de ter chegado lá.
Quando você se preocupa
e apressa seu dia
é como se fosse
um presente jogado fora.
A vida não é uma corrida
leve-a mais devagar
ouça a música antes
que a canção acabe.
Viva bem sua vida
sem ódio
sem mágoas.
Domine seus pensamentos
pratique a Compaixão
a Humildade
e sobretudo o Amor.
E não esqueça de ouvir a música
antes que a canção acabe.
José A. Loureiro
"DE UM JEITO SÓ SEU"
(para Gil e Dama)
Há um jeito que é só seu de semear o bem.
Se tens sabedoria para falar, fale!
há pessoas necessitando ouvir para
reorganizar os pensamentos e sentimentos.
Se tens o dom de escutar, escute!
há pessoas que precisam escutar a quem
lhes rasguem novos horizontes.
Se tens o dom de enxergar os talentos alheios, enalteça-os!
há pessoas que desabrocham por conta de alguém que
lhes reconheça o dom.
Se tens discernimento o bastante para fazer
uma observação construtiva, faça-o!
há pessoas persistindo no mesmo erro
por falta de alguém que os alerte
com carinho e firmeza.
Se não tens vocação para engajar-se
em algo filantropicamente
tenha em mente que o bem maior
começa dentro do seu próprio lar.
Oferte sua canção, a sua poesia
a sua hospitalidade, naquele prato
que ninguém sabe fazer igual.
Oferte a sua diplomacia
a sua liderança, a sua capacidade
de atuar em segundo plano
para o bem estar comum.
Oferte o seu talento para
contar piadas e fazer rir,
a sua ternura natural
no trato com crianças
idosos ou animais.
Oferte a sua capacidade
de manter o sangue frio
nas horas de crise
quando tudo a sua volta
parece desabar.
Há um jeito que é só seu, e todo seu
mesmo que seja ofertar uma flor
sem ser dia de nada.
Você está fazendo a sua parte
de um jeito que é só seu
e é só isso que realmente importa.
De um jeito só seu.
A amizade só faz sentido
se traz o céu para dentro da gente.
José A. loureiro
"AMAR VOCÊ"
Amar você é bom demais
e com sabor de quero mais.
Sei que vivo porque não te esqueço
e o carinho que me dás eu mereço.
Mereço porque fostes para mim
o eterno, o primeiro, o amor, o sem fim.
Do coração guardo a canção mais bonita
não pela harmonia ou beleza da escrita.
Mas de todas elas
foi a mais ouvida
a mais desfrutada das mais belas
e a mais sentida.
Sempre me deste e hoje me dás
tanta ternura
me dás a paz e a alegria
me dás a candura.
Por isso terás de mim
tudo que quiseres
e prometo será assim
a beleza do eterno dos prazeres.
Tão difícil de entender pelo resto do mundo
é tão simples, e nos queremos tanto
e nos atiramos apaixonados ao fundo
e conservamos dos primeiros beijos, o encanto.
Pensar em ti pra mim é prazeiroso
sentir seus braços em abraços é gostoso.
Falar contigo, recordar viver tudo novamente
saboreando um amor que nunca foi ausente.
Te oferecendo de mim
o que há mais de sagrado
meu coração todo por inteiro
e de amor embriagado.
Mas um dizer tão pleno
"ter tão pouco amor"
instilou tanto veneno
quase me mata de dor.
José A. Loureiro
"POEMA PARA SELMA"
QUE JAMAIS
Que jamais em qualquer tempo, teu coração abrace o ódio
Que a maturidade, jamais asfixie a tua criança interior
Que teu sorriso seja sempre verdadeiro
Que as pedras em teu caminho sejam sempre
consideradas como lições de vida
Que música seja tua companheira nos teus momentos mais íntimos
Que teu momentos de amor contenham em cada beijo,
a magia de tua alma eterna
Que teus olhos sejam dois sóis mirando a luz da vida em cada amanhecer
Que cada dia seja um novo recomeço,
onde tua alma possa dançar com a luz
Que em cada passo teu, em cada coração,
surjam luminosas marcas digitais
Que cada amigo, teu coração faça festa e celebre
o encanto da amizade profunda que liga almas coincidentes
Que em teus momentos de solidão e cansaço estejam sempre presentes
em teu coração, a lembrança de que tudo passa e se transforma,
quando a alma é generosa
Que teu coração voe contente nas asas da espiritualidade consciente,
para que percebas a ternura invisível tocando o centro de teu ser eterno
Que teu coração sinta a presença do inexplicável
Que teus pensamentos, teu amores,
teu viver e tua passagem pela vida sejam sempre abençoados
por aquele amor que ama sem nome Aquele amor que não se explica, só se sente
Que esse amor seja teu rumo secreto viajando eternamente no centro de teu ser
Que esse amor transforme teus dramas em luz,
tua tristeza em celebração e teus passos cansados em passos de dança renovadora
Que jamais, em qualquer tempo, te esqueças da presença
que está em ti e em todos os seres
Que teu viver seja de paz e Luz
QUE JAMAIS DEIXES DE SER FELIZ
José A. Loureiro
"CAMINHOS"
O que me empolga e alegra
desde lendários tempos de rapaz
sendo lícita toda refrega
O tempo que me foi fulgaz
Agora, maduro
minh'alma, se enegra
Quem a sorte perseguiu
à esmo
Não teve tempo para
ser feliz
Olhando no espelho
A si mesmo
Não teve a paz
que sempre quis
Acabo de apagar minha luz
Pela janela, nua, a noite vem
Me abraça com doçura e me seduz
Ser amigo e amante dela também
Assim me tinhas
Faz de mim tua quietude
poetisa em poucas linhas
Deixa no tempo a plenitude
De ter um infinidade
a emoção
a saudade do teu laço
a te entregar meu coração
Nos segundos
que durar a eternidade
Fica quieto
cala-te coração
Embora antigas trilhas me seduzam
e no íntimo
agita-se a paixão
e lembranças florescidas me conduzam
Aos teus caminhos
jamais me levarão
Imaginas me um ser bisonho
mas já é chegada a hora dourada
Desperta de teu estranho sonho
entretanto ris, mais sossegada
Quando todo anelo renuncio
sem objetivo, nem desejo qualquer
A maré se acalma e prenuncio
Estar no coração de uma mulher
José A. Loureiro
"NO SEU CORPO"
No seu corpo me perco por inteiro
e reencontro apaixonado meu caminho.
Eu não fujo das delicias desses abraços
estreitando com carinho nossos laços
na entrega do meu corpo que te faço.
No teu corpo meu momento se eterniza
no teu corpo o amor se concretiza.
No teu corpo toda diferença faz
No teu corpo que queria estar agora
a deliciar me do teu cheiro
de teu corpo morrer de amor por inteiro.
E tudo pra dizer que és pra mim
o amor sonhado, insano, desejado.
Que me faz sentir ciúmes
que faz meu sangue correr mais rápido
que faz meu coração bater mais forte
por um simples sorriso teu.
Após todo prazer
em harmonia combinada
te deixo nesse amanhecer
adormecida embriagada.
E nesse eternamente viver
de se deliciar em emoções
que vim de conhecer
a paz que une dois corações.
José A. Loureiro
"CANTAREIRA"
Gente no trabalho ou passeando
de repente uma trovoada
as vitrines das lojas embaçando
e começa uma corredeira
de onde ninguém sabe nada
pra escoar pra o Cantareira.
Olha a chuva vem chegando
correm águas na ladeira
todo povo vai rezando
pra pingar no Cantareira.
Todo mundo apressado
e não é uma brincadeira
evitando ficar molhado
pra subir no Cantareira.
Gente que nem usa a torneira
todo mundo economizando
e não é uma bobeira
povo se solidarizando
pra aumentar o Cantareira.
A noite sem energia elétrica
uma árvore caída
estala e cai frenética
água nas casas , na soleira
numa rua sem saída
enche mais o Cantareira.
Há muito o que planejar e fazer
Quem é responsável encontre um meio
pra nunca mais acontecer
Vamos ter o Cantareira cheio.
José A. Loureiro
"PARA CADA UM"
Para cada mulher que aparenta ser forte
cansada de mostrar debilidade
há um homem débil com medo da morte
preocupado em esconder sua idade.
Para cada mulher que age tonta e cansada
há um homem agoniado e mudo
diante da mulher um tanto transtornada
e o homem aparentando saber de tudo.
Para cada mulher catalogada
ser pouco feminina quando compete
mas que mostra muito ousada feminilidade
no esporte há história que se repete
há um homem na linha de chegada
que não duvidem de sua masculinidade.
Para cada mulher cansada sem motivo
de ser qualificada como um "ser emotivo"
há um homem a quem é negado
o direito de chorar e de "ser delicado".
Para cada mulher cansada
de ser objeto de sexualidade
há um homem preocupado
com sua potência e virilidade.
Para cada mulher que não descobre
os mecanismos de um automóvel
há um homem que de vergonha se cobre
por não saber onde fica a cozinha, no imóvel.
Para cada mulher com pouco acesso
a um emprego ou salário satisfatório
há um homem de desconhecido sucesso
ter um ser de sustentar, obrigatório.
Para cada mulher quando dá um passo de verdade
numa longa e custosa luta de libertação
há um homem que descobre o caminho da liberdade
se faz de tolo mas é esperto na estonteante emoção.
A Humanidade possui duas asas
uma é a mulher, a outra é o homem
enquanto as asas não estiverem
desenvolvidas igualmente
para cada um poder voar
num voo conjunto eternamente.
José A. loureiro
"O SOM DO SILÊNCIO"
Olá escuridão, minha velha amiga
eu vim para conversar contigo novamente
e retornando à diferença antiga
por causa de um aviso enviado suavemente.
Deixou suas sementes enquanto eu dormia
e uma visão foi plantada em minha mente
ainda permanece a mensagem que eu lia
sobre o som e o silêncio, silente.
Em sonhos agitados caminhei só na cidade
nas estreitas ruas em viela ascendente
do casaco, dobrei a gola para frio e umidade
sob a luz de uma lâmpada fluorescente.
Quando meus olhos foram esfaqueados
por uma estonteante luz de um edifício
e tocou os sons do silêncio tão cansados
não era luz pura, era mesmo de artifício.
E a luz nua finalmente eu enxerguei
vi pessoas conversando sem estar falando
mil pessoas, talvez mais, avistei
pessoas ouvindo sem estar escutando.
Pessoas escrevendo canções
que não pretendem compartilhar
e mesmo sob fortes pressões
o som do silêncio precisam escutar.
Tolos, eu digo, vocês precisam ouvir
o silêncio é um câncer que avulta e cresce
ouçam o que posso lhes nas mentes, incutir
é mal que adoece, mas a rosa sempre floresce.
E as pessoas se curvaram e rezando
para um Deus de neon que criaram
um relâmpago veio avisando
das palavras súbitas que cultuaram.
E o sinal dessa palavra de profeta
escritas nos muros dos quintais
num sussurro o silencio se aquieta
nas placas dos conjuntos habitacionais.
José A. Loureiro
"CONHECER-SE"
Só quando conhecemos ao outro
é que nos conhecemos também
e conhecendo a outra
nos conhecemos tão bem.
Há tempos que olvido
o desconhecido conhecer
sem ter sido resolvido
o desconhecido tento resolver.
Nunca há de me conhecer
quem já esteve comigo
e atual pretendo ser
já que fui um tanto antigo.
Pra quem tenta me deter
ter bom motivo pra estar
há de ser meu bem querer
num longevo bem fincar.
Uma vez disse não te quero mais
sendo amado ou esquecido
pra mim tanto faz
só não posso ser dividido.
Aceite-se com és
e aos poucos me conhecendo
da cabeça até os pés
ser de igual para igual, vivendo.
Já fiquei tão pasmado
esses versos tão repetitivos
cansei-me desse estado
desiguais, tão sem sentido.
Ai de mim naquilo que refuto
desconheço no atalho, sem saber
o que me diz, eu nem escuto
ser capaz de te conhecer?.
Tendo longo relacionamento
sou feliz em me envolver
em mais puro e forte sentimento
visitando o mais íntimo do teu ser.
Foi então que descobri de mente aberta
que a vida que flui de todas as fontes
transitando no mundo é que se acerta
o despertar do conhecer-se, em novos horizontes.
José A. Loureiro
"O JARDIM"
Meu nome é primavera
paz, luz e alegria
meu sobrenome, flores
assim tenho dito
seu codinome é vida
que leva esperança
assim farei
na senda que alcança
sem parto de dores
o que lhe remeterei
para grandes amores.
Seu nome é alegria
com flores, nossa amizade vou enfeitar
Meu nome é felicidade
alegria, paz, sucesso vou acrescentar
Seu nome é magia
amor e energia vou ressaltar
que leva inspiração
todos os cheiros vou misturar
para dentro da poesia.
Busquei minha inspiração
permita-se renovar
baseado em sua alegria
encontrei a felicidade
para esse encanto revigorar
procurei minha energia
com essa canção
misturada com a magia.
Aprendi que flores são flores
que no tempo vou espalhar
não importa o jardim
de todas as cores
na distância lhe encontrar
nem tampouco a estação
só preciso de uma flor assim
que me toque o coração.
Ao seu espírito remeter
paz, luz em sinfonia
será esse o destino final
só assim poderia ter
em perfeita harmonia
que alcance o que lhe enviarei
um aceno de amor fraternal
de quem tanto esperaria
na magia de agora receberei
nosso jardim de cheiros, afinal
José A. Loureiro
"DENTRO DA NOITE"
O sonho é sempre igual
linda linha de três patamares
em estonteante jardim estival
encontros em tais lugares.
À noite, de qualquer maneira
uma canção vem se misturar
como se passasse a vida inteira
eu posso ficar horas a escutar
a sorte dita, espera por mim
é parte do que ali deixei ficar
porquanto será sempre assim.
Máscaras eu tenho tanto de apresentar
a mim, e a muitos outros também
em gestos, mas com intenção de cantar
revelando meu íntimo tão bem.
Já a noite cai, descansa a rua
só vidraças continuam a brilhar
e sufocar-me de saudade tua
vagando sem rumo, a perambular.
Ser um tanto desolado eu vou
sendo noite sem lua, puro breu
e que ninguém saiba onde estou
deixo de ser exclusivamente teu.
Meus idos anos deslizando, vão
mesmo que amanhã eu não esteja
por luminosa e amável amplidão
agora aqui estou para que me veja.
José A. Loureiro
"FRAGMENTOS"
Quem descobre o caminho interior
tem um diálogo com a própria alma
sabendo que não é ser superior
pausa, pensa, medita e acalma.
O arco tenso, estala e verga
tentando as duas pontas se tocar
quando o punho furioso enxerga
a destruição que pode causar.
Já morri todas as mortes
todas as mortes quero tornar a morrer
morte de árvores, no corte
morte em vulcão, de lava a escorrer
dor da terra arada na certa estação
geme a terra sulcada bem forte
morte das folhas queimadas no verão
morte de quem nunca teve sorte.
Morte de relva ressecada no monte
morte de um rio, seco na fonte
morte de eutanásia tão desejada
morte de quem não quer mais nada
morrer depois de tanto haver amado
morrer há anos com quem esteve lado a lado
morrer nos lares, na cama de um hospital
morrer renascido em novo ser espiritual.
O que serei de novo ao renascer
ao redor, sem angustia sem aflição que cala
nesse maravilhoso parto devo ser
a magia que só um novo tempo iguala.
José A. Loureiro